Proposições para congressos
Aprovada a comunicação
Wagner colométrico: Visualidade, metro e música
Durante sua carreira Richard Wagner (1813-1883) se envolveu, entre outras questões, com tradições poéticas diversas. Na preparação e realização de seu projeto do Anel, Wagner estudou, teorizou e produziu versos aliterativos em larga escala, tanto aproximando-se da tradição germânica antiga, quanto afastando-se das reacriações de metros gregos antigos, as quais definiam a poesia e a ópera de seu tempo.
Paradoxalmente, aquilo que ele vai encontrar nos versos aliterativos – flexibilidade e liberdade de frases rítmicas – estava presente das seções corais da dramaturgia ateniense antiga. Nessa dramaturgia, inscreve-se na página do manuscrito uma diversidade padrões métricos que busca registrar o fluxo das performances cênicos musicais.
Chave para esse registro é o conceito de colometria, que mixa o design da página (mise- en- page) e a composição rítmica da performance ( mise-en-scene). Colometria era a técnica pela qual os editores de textos antigos analisavam as frases rítmicas de obras performativamente orientadas e produziam sua distribuição em uma textualidade específica. Assim, no período helenístico, gramáticos alexandrinos receberam cópias das tragédias e comédias e estabeleceram edições críticas a partir tanto da língua, quanto dos metros e notações musicais disponíveis.
Durante a vida de Wagner, assiste-se, por parte da filologia reinante, a busca por regularização das seções métricas corais, com a negação crescente da erudição métrico-musical antiga em prol de uma concepção mais centrada na linguisticidade. A musicalidade desses textos é compreendida a partir dos parâmetros da música europeia erudita entre 1750 e 1820, com a aplicação do conceito de isocronia, resultando em versos entendidos como frases musicais compostas de unidades de igual duração e iniciadas por acentos fortes (Lomiento, 2022, p.8).
Nesta comunicação busca-se tornar compreensível como as inquietações e insatisfações de Wagner frente aos modelos poéticos herdados situam a adoção do verso aliterativo em uma mais ampla dimensão: a realização de eventos multissensoriais que, entre seus efeitos, impulsiona uma escrita que negocia em sua visualidade na página com registro e mapeamento de dinâmicas métrico-rítmicas. Não é à-toa que se pode observar uma correlação entre a microestruturação do drama musical wagneriano no uso de versos aliterativos e sua macroesturuturação na audiovisualidade dos “temas condutores” (Borchmeyer, 1991, p. 150-159).
Ainda teremos este ano mais três eventos para mostrar wagner
2- 7º Congresso da Associação Nacional de Pesquisadores em Dança
11, 12, 13 e 14 de outubro de 2023.
Título da proposta: Wagner e a dança como protoestética: da recepção da Antiguidade Clássica à ideia de orquestra-coro.
4- Encontro de filosofia em Ilhéus
TÍTULO: Wagnerianas: A teatralidade como argumento e ação
19/10 Ilhéus
5- XXXIII Congresso da ANPPOM. São João del Rei, MG | 23 a 27 de outubro de 2023
Propostas de Comunicações e Pôsteres podem ser submetidas até o dia 31 de
julho de 2023
Vou apresentar sobre Wagner em Paris, primeira estadia.
Retomo proposta para evento em Pelotas, em 2022, que foi aprovado, mas não pude participar.
Richard Wagner e a Imprensa: Processos criativos e Propaganda
Richard Wagner explorou de diversos modos a estrutura da esfera pública de seu tempo, especialmente por meio da escritura de textos para jornais. De seus primeiros dias como crítico da ópera alemã, passando por suas estadas em Paris, seu projeto do Anel, até a autocelebração no boletim mensal Bayreuther Blatter, temos estratégias simultâneas de construção de projetos artísticos e formação de uma comunidade recepcional. Nesta comunicação, são repassados momentos e funções dos usos do polemismo publicista de Richard Wagner, com especial atenção aos anos em Paris (1839-1842). Durante sua estadia na capital francesa, com as restrições econômicas e sociais que inviabilizam sua disposição de “vencer em Paris”, Wagner passa a dividir-se entre tradições culturais e modelos estéticos e de produção em entrechoque. Foi nos artigos para jornais que ele experimentou ideias, gêneros e soluções para seus impasses artísticos e existenciais. Como um diário íntimo publicizado, tais artigos jornalísticos são ao mesmo tempo processos criativos e esboços de materiais que mais tarde seriam elaborados em sua carreira.
CARDONI, Jean-François. La genèse du drame musical wagnérien, mythe, politique et histoire dans les œuvres de Richard Wagner entre 1830 et 1850. Paris: Peter Lang, 1998.
COLEMAN, Jeremy. Wagner in Paris. Translation, Identity, Modernity. Woodbridge: The Boydell Press, 2019.
Le HIR, Sabine. Wagner et Paris (1830-1839): une étape d'apprentissage. Revue de Musicologie , 100. 2, p. 357-377,2014.
NATTIEZ, Jean-Jacques. Wagner Androgyne. Princeton: Princeton University Press, 2014.
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